Capital concentra 77% dos médicos do Ceará


Baixos salários, falta de estrutura para o exercício da profissão, equipes incompletas, atraso no pagamento de salários, dependência de políticos e infraestrutura precária de alguns municípios, sobretudo os mais longínquos, são empecilhos apontados pelos médicos como motivadores para que não queiram atuar no Interior do Estado. 

De acordo com a pesquisa "Demografia Médica no Brasil 2015", elaborado pelo departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP), são 11.043 profissionais em todo o Ceará. Destes, 8.481 estão concentrados na Capital - o equivalente a 77%.


Enquanto no Estado a razão é de 1,26 médico por 1.000 habitantes, em Fortaleza são 3,32. Para Ivan Moura Fé, presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremec), essa distribuição tão desigual se dá pela falta de estrutura oferecida à categoria. "É preciso ter serviços bem equipados, com equipes completas, porque não se trata apenas dos médicos, tem os demais profissionais de saúde também; e uma melhor remuneração, para poder progredir nesse sentido".

Mesmo reconhecendo que houve aumento da oferta de serviços com as equipes do Programa de Saúde da Família (PSF), as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e as Policlínicas, ele destaca que ainda é preciso avançar bastante. "Às vezes, o serviço está ali, mas não está bem aparelhado para funcionar em sua capacidade plena", frisa.

Para fazer frente a essa realidade, Fé salienta que uma bandeira que vem sendo levantada há vários anos é a carreira de Estado, na qual o profissional possa, por meio de concurso público, saber que, posteriormente, pode conseguir transferência para municípios maiores. "Esse é o caminho para aumentar a quantidade de médicos cobrindo o Estado", enfatiza. O presidente do Cremec acrescenta que o último concurso público realizado no Ceará foi em 2006. "Já fazem quase dez anos. Temos pleiteado concurso público, mas o governo resiste", critica.

Sentimento semelhante tem o Sindicato dos Médicos do Ceará. A presidente da entidade, Mayra Pinheiro, diz que além da falta de condições de trabalho para prestar assistência com qualidade ao paciente, faltam ainda motivações sociais para permanência desses médicos com as suas famílias em cidades distantes. "É muito diferente ir para o interior de São Paulo, onde há cidades bem estruturadas, do que ir para o Interior do Ceará. Não tem incentivo para ir à periferia, assim como não tem para o Interior do Estado", destaca.

Para Mayra, o Ceará só vai resolver esse problema com a implantação da carreira de Estado para médico, como existe no Judiciário. Essa carreira, reforça a sindicalista, seria para a atenção básica e as emergências. "Queremos para aquele médico essencial, do PSF e das emergências, caso contrário vamos continuar com o Instituto Dr. José Frota (IJF) superlotado. Tem hospital no Interior, mas não tem quem queira ir, pela falta de condições oferecidas", reitera.

Seleção pública

Em vez de fazer concurso público, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) realizou seleções públicas para contratação de profissionais a serem lotados no Interior, nas Policlínicas, UPAs, no Hospital Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte, e no Hospital Regional do Norte, em Sobral.

Sem responder se há algum concurso público previsto para médicos das unidades do Interior, o órgão informou apenas, em nota emitida pela assessoria de comunicação, que nos últimos sete anos, com o funcionamento das primeiras unidades da nova rede de saúde, os profissionais passaram a contar com mais estrutura e melhores condições de trabalho. Além das 19 Policlínicas regionais já em funcionamento, a nota cita que a nova rede conta com 22 UPAs, quando até 2011 não havia nenhuma no Ceará.



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