Com pacientes nos corredores dos hospitais, Ceará vê crise se agravar

Os corredores do Hospital Instituto Dr. José Frota (IJF), maior hospital de urgência e emergência do Ceará, continuam lotados com pacientes sobre macas, que chegam a impedir, em determinados momentos, o acesso aos elevadores de serviço, onde, segundo os acompanhantes dos pacientes, não era comum a presença de doentes. Além deste descaso, também há relatos de que apenas dois elevadores estão funcionando e que o serviço de Tomografia Computadorizada (TC) só está em atividade para a realização de exames craniais.

Conforme o "Corredômetro das Emergências" - instrumento do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará e da Associação Médica Cearense (AMC) que mede a lotação das unidades públicas de saúde de Fortaleza e de outros hospitais do Estado -, havia 68 pessoas instaladas nos corredores do IJF até a manhã desta segunda-feira, o que representa aumento comparado com a última sexta-feira (13), quando havia 60 pacientes nessa situação.

No entanto, a situação exposta pelos acompanhantes não é exclusiva do IJF. Segundo o levantamento das instituições, outros cinco hospitais do Ceará estão superlotados, sendo o Hospital Geral de Fortaleza (HGF) aquele que apresentava o maior número de pacientes nos corredores: até o fim da tarde de ontem (16) eram 80 pessoas.

Em seguida, vinham o Hospital de Messejana, com 56 pacientes; o Hospital Regional do Cariri, com 56; o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), com 29; e o Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto, com 22 pessoas. Com isso, há um total de 311 pacientes no corredômetro.

Segundo o Dossiê da Saúde 2016, elaborado pelo Sindicato dos Trabalhadores no Serviço de Saúde de Fortaleza (Sintsaf) e divulgado no fim de março deste ano, os pacientes espalhados pelos corredores do IJF correm o risco de contrair infecções pós-operatórias por falta de alocação adequada.

A presidente da Associação dos Servidores do IJF (Assijf), Ana Miranda, salienta que a superlotação da unidade é inadequada para pacientes, acompanhantes e para os próprios profissionais da saúde. "Quando você trabalha com superlotação, você se sente no dever de atender mais do que pode. Esse descaso nos corredores impossibilita um bom trabalho da equipe de enfermagem, o serviço fica insatisfatório e não é capaz de atender às necessidades personalizadas do paciente", acrescenta. Ela relata que muitos acompanhantes vêm do Interior do Ceará e não têm condições de pagar alguma forma de hospedagem. Por isso, chegam a dormir sobre papelões estendidos no chão. Tanto as macas quanto esses dormitórios improvisados atrapalham o transporte de materiais hospitalares e a movimentação de outros pacientes dentro das dependências da unidade.

Problema externo

"O problema da superlotação passa por fora do IJF, não adianta achar que o problema é interno. Ele passa pela atenção básica e pelos hospitais de média complexidade, porque o IJF é de alta complexidade. É necessária uma reestruturação dos hospitais secundários, para que eles tenham condições de atender a suas demandas", afirma.

Crise na Saúde é agravada em maio de 2015

A crise na Saúde Pública no Estado do Ceará foi agravada em maio de 2015, a partir da divulgação dos números de pacientes atendidos nos corredores dos principais hospitais públicos do Estado. Os relatos culminaram na saída do então secretário da Saúde do Estado, Carlile Lavor. 



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