Os Direitinhos em visita aos presos da cadeia pública de Iguatu

No último sábado 20/06, a turma do 3° semestre de Direito da Universidade Regional do Cariri - URCA, acompanhada da professora e advogada Dra. Bernadete de Lourdes dos Santos Bitú, fez uma visita a cadeia pública de Iguatu-CE, com intuito de conhecer mais profundamente esse universo paralelo da sociedade e ficar a par dos problemas que ali se encontram.
Não é de desconhecimento de nenhum habitante da cidade que a nossa cadeia pública, assim como nossa Polícia Militar e Civil, está ao relento, sem que tenham assistências e melhorias significantes para que possam preservar a vida destes condenados, como também aumentar a segurança e diminuir o medo da população, para que possamos andar mais tranqüilos pelas ruas e calçadas.
Nós, alunos, vimos o quão precário é aquele recinto e mais, não oferece segurança para nenhuma pessoa que esteja fora da cela, nem aos policiais. Celas minúsculas e lotadas. Todas, sem exceção, todas as celas com mais de nove presos, algumas com onze ou doze homens amontoados uns em cima dos outros. Visitamos também a ala que um dia foi para que os presos pudessem ter trabalhos de reabilitação, inclusive uma das que lutou por aquele espaço foi a própria Dra. Bernadete, que hoje virou a cozinha. Com um fundo desgosto a Dra.Bernadete nos contou que a luta foi dura para aquele espaço ser construído e conseguir parcerias com empresas, e hoje ver aquilo tudo perdido e esquecido.
Conversando com os presos disseram-me que quando chove forte eles dormem de cócoras, já que a água entra na cela e eles não podem dormir deitados. Falaram também que a segurança é tão pouca que no mesmo sábado pela manha dois presos fugiram depois de serrar a grade.
Dentro de uma das celas, uma amiga nossa percebeu que um detento tinha em suas mão um celular, e ainda por cima estava batendo fotos dos alunos.
Nossa maior intenção nesta visita foi de saber o porque deles estarem lá e ficarmos por dentro de seus processos para que pudéssemos esclarecer as duvidas e fazermos com que eles tomassem conhecimento das suas situações processuais, respondendo-lhes aos seus questionamentos. Pudemos perceber que a maioria dos detentos sequer tinham parentes e muito menos advogados para acompanhar suas causas. Outros ali, dependiam de defensores públicos que nunca, eu disse nunca, apareceram na prisão para lhes prestarem assistências ou pelo menos dar-lhes alguma satisfação. E estou falando de advogados conhecidos da região, que por fora a casca é limpa e lisa, mas por dentro o ovo está podre. Aí, como estudante de Direito me pergunto: Qual a ética que esses
defensores têm que abandonam o caso sem ao menos informar aos clientes?
Nós, com intuito de tentar ajudar de alguma forma, anotamos os casos de vários detentos e com nossos conhecimentos, ainda poucos mas eficazes, lhes passamos seus direitos e claras situações de cada processo analisado por todos os estudantes. Dissemos o porque de ainda não estarem livres, quando poderiam sair em condicional e assim por diante.
Um fato bem interessante que nos chamou a atenção foi de uma presidiária que pagava pena por estelionato. Contou-nos que já fazia aquilo há algum tempo e que quando saísse em liberdade iria voltar a praticar o crime e que o primeiro alvo, seria o Juiz Dr. Wotton Ricardo. Falando da mesma, um policial nos contou também que ela
já teria até falsificado a assinatura do Juiz e ainda fez uma ligação mandando soltar o preso. Todos nós ficamos surpresos com este depoimento e pela audácia e coragem dela praticar isto com um Juiz.
Para nós da turma foi de grande proveito e importancia esta visita, apesar de no começo o clima ser tenso e sombrio, mas valeu a pena para que pudéssemos conhecer esta realidade e assim repassar para as pessoas de fora que não podem ter esta oportunidade.
A duvida que fica é saber quando e se teremos uma nova cadeia publica em Iguatu, assim como Icó e Acopiara. Certo que nenhum deles é santo, mas não podemos esquecer que alí se encontram, acima de tudo, seres humanos e que mesmo atras das grades devem ser tratados como tal.

Por Ícaro Souza de Vasconcelos

Luiz Vasconcelos

O redator do blog tem formação acadêmica pela Universidade Estadual do Ceará na área de Pedagogia, no entanto, tem grande predileção pelo jornalismo.

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