Após quatro anos da entrega do processo de reabilitação do Padre Cícero na Congregação para a Doutrina da Fé, o Vaticano mantém-se em silêncio. A demora no julgamento reacende a polêmica em torno do nomeado "Cearense do Século".
"Roma é eterna. Aqui tudo é demorado". Com esta frase, o bispo da Diocese do Crato, dom Fernando Panico, colocou uma ducha de água fria no entusiasmo do grupo de romeiros, entre os quais o então prefeito de Juazeiro, Raimundo Macedo; o presidente da Câmara Municipal, José de Amélia Junior; e alguns vigários da Diocese do Crato, que acompanharam o bispo na entrega da documentação, solicitando, ao cardeal e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Josef William Levada, a reabilitação de Padre Cícero.
A advertência de dom Fernando aconteceu no dia 31 de maio de 2006, no interior do ônibus que conduzia a comitiva de 52 romeiros do Cariri do hotel para o Vaticano. Os mais entusiasmados como o prefeito Raimundo Macedo, que atravessou a Praça de São Pedro com uma caixa de documentos na cabeça em direção ao antigo Santo Oficio, esperavam voltar ao Brasil com uma resposta positiva sobre a reabilitação do Padre Cícero.
No entanto, e após esse longo período, o Vaticano ainda se mantém em silêncio. Em setembro do ano passado, quando da visita "ad límina" dos bispos do Nordeste ao Vaticano, o Papa Bento XVI, segundo dom Fernando, prometeu mandar acelerar a análise do processo de reabilitação. O padre Francisco Roserlândio de Souza, coordenador do Departamento Histórico Diocesano Padre Antônio Gomes de Araújo, diz que a única novidade sobre o assunto é a presença de um escritor americano que inicia, esta semana, uma pesquisa sobre o processo de reabilitação.
O então Papa João Paulo II, de acordo com o escritor Geraldo Barbosa, foi bastante objetivo, quando em visita ao Brasil, ao dizer que "o Brasil precisa de Santos". "A vida religiosa do (padre) Cícero Romão Batista foi florescente de virtudes e doações a Jesus Cristo, num apostolado que ainda hoje registra uma nação cristã romeira de 80 milhões de devotos. Nunca o Brasil testemunhou um líder cristão de tamanho poder espiritual e humano", justifica o entrevistado ao defender uma definição sobre o processo de reabilitação que tramita no Vaticano há mais de um século, uma vez que foi o próprio Padre Cícero que pediu o perdão da Igreja.
O escritor cearense e autor do livro "Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão", Lira Neto, lembra que, para o Vaticano, a veneração ao Padre Cícero tem se tornado ainda mais eloquente diante da constatação de que, a cada ano, o catolicismo perde milhares de adeptos no Brasil.
Segundo cálculos da própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a sangria de fiéis é considerada alarmante. O País continua a ser "a maior nação católica do mundo". Mas a última década assistiu à queda vertiginosa no percentual de católicos brasileiros, enquanto outras religiões se multiplicam em idêntica proporção. Deixar que o culto ao Padre Cícero permanecesse à margem da liturgia significa, na interpretação de Lira Neto, negar o acolhimento pastoral a toda uma preciosa legião de devotos.
Com informações do Diário do Nordeste - Antonio Vicelmo
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