Certos eventos políticos são constrangedores pela evidência de que são factóides criados para gerar manchetes e alimentar discursos demagogos. Pior ainda quando o objeto do factóide não muda e ano após ano, os mesmos atores encenam a mesmíssima peça, com a conivência de uma imprensa que a cobre como se fosse grande novidade.
É o caso da prometida refinaria que a Petrobras construiria no Ceará. Faltando dois dias para o fim do segundo mandato do presidente Lula, ele veio ao estado para lançar a pedra fundamental da obra que já foi anunciada e adiada repetidas vezes.
Uma rápida pesquisa na internet mostra que o empreendimento começaria a ser construído em 2009, depois em 2011, em seguida em 2013, e agora – diante do fato de que a Petrobras não incluiu a refinaria cearense em seu planejamento para 2014 – a mais nova data é 2017.
Essa embromação ainda é vendida como uma certeza protelada apenas por contratempos técnicos. No entanto, o contraste entre a grandiosidade do que é anunciado e a escassez do que é efetivado é gritante.
A ausência de pelo menos um projeto factível para a refinaria deveria ser estampada como prova de incompetência gerencial ou falta de compromisso político deste governo que enrola o Ceará. Mas vira motivo de festa.
Nunca um governo tão carente de realizações foi tão popular. E o segredo não é apenas o assistencialismo. Falta cobrança. Como é que a opinião pública cearense se submete a esse vexame? Como é que a imprensa e as autoridades não ficam envergonhadas de participar desse teatro? Por que festejam serem passados para trás?
A resposta é triste: falta-lhes hombridade para se indignar com a mentira, com a promessa galhofeira e o desprezo cínico com que o Ceará foi e continua a ser tratado. E quanto mais essa disposição para a submissão mansa se manifesta, mais senhores da situação ficam os que sabem vir aqui pedir votos, mas que na hora de cumprir a palavra, apenas montam palanques festeiros para bater tambor.
Quanto mais o governador Cid Gomes e a prefeita Luizianne Lins se esmeram para aplaudir os inflamados discursos do presidente Lula, na esperança de conquistar mimos no futuro, mais são tratados com desdém, colhendo como pagamento, merecido, a repetição das promessas não cumpridas.
A pedra fundamental dessa refinaria é uma afronta aos cearenses, uma humilhação para o seu governo e prova de escárnio que deveria ofender os aduladores que a festejam.
Wanderley Filho é historiador
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