Nos bastidores, o embate entre serristas e aecistas vai continuar no PSDB apesar do acordo firmado na convenção realizada no sábado em Brasília. O presidente tucano reeleito, Sérgio Guerra (PE), irá conduzir o partido para garantir a candidatura do senador Aécio Neves (MG) ao Palácio do Planalto em 2014. No novo conselho político da sigla, o ex-governador José Serra (SP) terá a difícil tarefa de tentar influir em decisões como alianças, fusões e candidaturas. Uma nova candidatura é hoje um sonho distante.
Minutos depois do término da convenção, os dois grupos já voltavam a trocar farpas e minimizar ou aumentar o resultado obtido. “Não cedemos nada para o Serra. Foi um balde de água fria”, disse um integrante da ala mineira e agora majoritária. “A decisão sobre quem será candidato passará pelo conselho”, insistiu um paulista. Diante das câmeras de TV e flashes de fotógrafos, no entanto, o objetivo principal foi demonstrar unidade.
Mesmo ciente da sua força para derrotar Serra em qualquer tipo de votação dentro do partido, Aécio não queria realizar uma convenção sem a presença do paulista. Perderia a imagem de político conciliador. O ex-governador de São Paulo jogou pesado e ameaçou sair do partido mais uma vez - o que ele já havia feito em fevereiro. “Não foi uma, nem duas, mas umas 15 vezes que ele ameaçou sair”, contou um dirigente do PSDB ligado ao grupo de Aécio.
Ameaça de racha
Duvidando da palavra do ex-governador paulista, alguns aecistas toparam pagar para ver. Na quarta-feira, um grupo de 35 deputados fechou questão: não vamos ceder nada ao Serra. No mesmo dia, o deputado Marcus Pestana (MG) foi visto discutindo com o deputado Jutahy Júnior (BA) no plenário da Câmara. “Eles ameaçaram o racha”, confirmou Pestana.
Amigo de Serra há anos, Jutahy foi um dos tucanos que trabalharam para ele ocupar um cargo em que pudesse seguir na vida partidária e política. “Serra queria o conselho político. Mas, na primeira proposta (feita em abril passado), o conselho teria 20 membros. O órgão seria uma ficção”, explicou Jutahy.
O Conselho Nacional Político do PSDB já era previsto no estatuto do partido, mas as reuniões só podiam ser convocadas pelo presidente da sigla. No caso, Sérgio Guerra. Para atender ao desejo de Serra, era preciso mudar as atribuições do conselho.
Jutahy contou que a remodelagem do órgão voltou a ser estudada na quinta-feira, em Salvador, na Bahia. O governador de Goiás, Marconi Perillo, foi à cidade receber título de cidadão baiano e refez a proposta do conselho. “O Marconi fez proposta. Queríamos um órgão decisório. Levei para o Geraldo Alckmin (governador de São Paulo) com o consentimento do Serra”, disse Jutahy.