Acopiara: voluntariado mantém museu


O trabalho voluntário de um grupo de aposentadas procura resgatar e mostrar aspectos da vida cultural, social e da história desta cidade, localizada na região Centro-Sul. A Organização Não Governamental (ONG) Raízes mantém, há 13 anos, um museu com diversas peças, fotos, documentos e livros que pertenceram às famílias locais. O acervo está instalado no prédio da antiga Associação Comercial, construído na década de 1950 e hoje é referência para pesquisa de estudantes e curiosos sobre os acontecimentos do passado.

Diariamente, o museu é frequentado por moradores, estudantes e visitantes que querem conhecer um pouco mais da cidade. A ideia nasceu do desejo de quatro amigas, Adaíza Fernandes, Fransquinha Medeiros, Socorro Gurgel e Izamar Teixeira. O projeto saiu do papel, ganhou espaço, confiança dos moradores que doaram acervo familiar e não para de crescer.

População aprova

Segundo a avaliação das diretoras, a ideia deu certo e recebeu a aprovação da população. Em decorrência da falta de funcionários, o museu só é aberto periodicamente nos meses de julho, agosto e setembro, que coincidem com as férias escolares, a festa anual do Reencontro de filhos do município e da padroeira, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Nos outros meses, as visitas são programadas. "Quando alguém quer conhecer o museu, abrimos com satisfação", informa Adaíza Fernandes, presidente da ONG Raízes.

O acervo é variado. A instituição reúne centenas de fotos de personalidades locais, lideranças políticas, empresariais, religiosas, peças de uso doméstico e trabalho, tais como potes, balanças, chaleiras, tijolos e telhas de barro, bandeirolas usadas antigamente nas janelas das casas, telefones, máquinas de escrever, de costura manual, celas de montaria, guarda-louças, móveis, a primeira cadeira do dentista, o primeiro rádio da cidade e a antiga amplificadora, a Virgem do Perpétuo Socorro (VPS) que era a voz da comunidade.

O serviço sonoro executava música, informações e mensagens amorosas entre os jovens de então. "A gente ficava na praça, flertando, que hoje os jovens conhecem como paquerar", lembra em tom de alegria, Adaíza Fernandes.

O visitante conhece um pouco da história do Município que se emancipou de Iguatu em 1921. Até essa data denominava-se Lages. Em 1933 passou a chamar-se Afonso Pena e a partir de 1943, mudou para o atual nome, Acopiara, que significa a Terra do Lavrador.

O museu é bem cuidado e é um espaço ideal para relembrar o passado e aprender com a história. "Aqui nós temos um pouco da nossa história, do nosso passado", diz Francisca Gurgel, conhecida por Fransquinha. "É um trabalho voluntário que nos dá muita satisfação". A diretoria da ONG está sempre solícita para com os visitantes. "Queremos conservar a nossa história e que as pessoas tomem conhecimento de como era a cidade no século passado", observa Rivanda Teixeira.

Papel cultural

O espaço é também usado para lançamento de livros. Recentemente, a obra ´Acopiara, formação histórica e política´, de Paz Laurino foi lançada. Na prática, desempenha um papel não realizado por nenhum órgão público local. No acervo, há uma carta escrita por Padre Cícero, de 1932, em resposta à moradora Zilda Vieira, que pedia ajuda ao sacerdote, e recebeu conselhos para reza do terço e orações ´que Deus proverá´. Padim Cícero se diz impossibilitado de doação material. Pilão, moinhos e ferro à brasa compõem o acervo e revelam aspectos da lida diária doméstica. Há também peças de antigas indústrias de beneficiamento de algodão, moendas e máquinas de datilografar que mostram modos de produção no século passado.

A luz elétrica era gerada por motor a diesel, o rádio era um objeto de sala, grande, e a válvula. Os telefones eram mono canal e pesados. O curioso é a comparação com a tecnologia moderna. Um ao lado do outro, o visitante observa que aparelhos celulares de primeira geração ficam desproporcionais com os atuais. Há telhas de cerâmica datadas de 1916, também pesadas e grandes.

A vida social da cidade é retratada com fotos da antiga estação ferroviária. "Esperar o trem era um acontecimento social, importante", relembra Adaíza Fernandes. "Todos estavam bem vestidos". A ONG Raízes promove a cada ano, no mês de julho a Festa dos Conterrâneos, com missa de ação de graças, seresta e baile. É um momento anual para recordação, confraternização e reencontro.

MAIS INFORMAÇÕES

ONG Raízes. Rua Afonso Pena, 27, Centro. Fones: Adaíza Fernandes (88) 3565. 0338 e Fransquinha Medeiros: (88) 3565. 0334

HONÓRIO BARBOSA
Repórter

Luiz Vasconcelos

O redator do blog tem formação acadêmica pela Universidade Estadual do Ceará na área de Pedagogia, no entanto, tem grande predileção pelo jornalismo.

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