Opinião: Nova tentativa para controlar a mídia

Carlos Chagas - O título de Patrono da Censura deveu-se ao Papa Sisto IV, aquele que mandou construir a Capela Sistina, depois magistralmente pintada por Michelangelo. Ele também criou o Index Librorum Proibitorum, junto com a Congregação do Index, em 1571. 

 A crônica das contradições revela ter sido por conta da invenção da imprensa, por Guttemberg, que a Igreja impôs as restrições à liberdade de expressão durante os séculos seguintes. Explica-se: até então os livros tinham que ser copiados a mão, coisa penosa que se fazia não apenas nos mosteiros, mas na casa de qualquer um, às escondidas. Com o aparecimento dos tipos móveis, multiplicaram-se as impressões, que precisavam ser feitas em locais específicos, as tipografias. Ficou fácil para a Igreja vigiar e fiscalizar aqueles estabelecimentos, com endereço certo e responsáveis específicos.

Deduz-se que o advento da imprensa, ironicamente, facilitou a censura. A moda pegou, não apenas a Igreja liderou o massacre à liberdade de expressão, pois governos e partidos de toda ordem também fiscalizavam e vigiavam o que se imprimia. Custou para a Humanidade livrar-se das restrições à livre manifestação do pensamento, em especial porque até hoje não se livrou por completo. A Igreja saiu de cena, por questão até de sobrevivência, mas basta viajar pelo mundo para verificar a existência da censura praticada por outras religiões, governos e partidos.

Por que se denuncia esse absurdo, em pleno século XXI? Porque o PT prepara-se para ressuscitar Sisto IV, e não será para construir capelas. A intenção dos companheiros, ainda que nem todos, é de reapresentar no Congresso o projeto de controle da mídia. Sob o pretexto de evitar abusos, que aliás continuam acontecendo, o partido convenceu a presidente Dilma a não se opor mais à tentativa de aprovação de uma lei capaz de restringir a divulgação de notícias e de opiniões contrárias a seus interesses e seus desígnios. Negam pretender controlar o conteúdo exposto nos meios de comunicação, mas é precisamente o que desejam.

A estratégia envolve a teoria dos contrários. Numa primeira etapa reivindicarão espaço e tempo nos jornais, rádios e televisões, assim como nos sites e blogs, para contraditar o que tiver sido divulgado e ofender suas concepções. O lógico seria implantarem os seus veículos, oferecendo suas versões e estabelecendo o livre debate, mas o que querem, mesmo, é atingir o adversário em sua própria casa. Tornar perigosa a apresentação de criticas e denúncias contra eles, através da usurpação de espaços, da ameaça de multas e da supressão de publicidade, tanto a oficial quanto a privada, que controlariam. Nos idos da ditadura militar, foi mais ou menos assim que os donos do poder mataram um dos jornais de maior fibra e respeitabilidade do país, o “Correio da Manhã”.



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