População de Cedro come "carne de moita" há mais de um ano


O município de Cedro, localizado na região Centro-Sul, há mais de um ano que os moradores consomem "carne de moita", cuja origem resulta do abate clandestino de animais bovinos, ovinos, caprinos e suínos, realizado diariamente em áreas próximas ao centro urbano. O gado é abatido sem nenhum controle de saúde, de forma cruel e em precárias condições. Há sérios riscos de transmissão de doenças para a população.

Diariamente, são abatidos de forma clandestina cerca de 15 bovinos e dezenas de outros animais de produção. Um flagrante desse crime foi feito em um sítio próximo ao matadouro. Os bovinos são puxados por uma corda até o ponto de abate, onde são mortos de forma cruel, com várias machadadas na cabeça. Não há higiene. A carne fica sob o chão. Sangue e vísceras escorrem para um pequeno açude. Sem fiscalização sanitária, animais doentes podem ser abatidos no local.

A carne de origem clandestina chega ao mercado público local e a outros pontos de venda em transporte precário e sem condições adequadas de higiene. A interdição administrativa do único matadouro que existia na cidade foi feita pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), em dezembro de 2008, e permanece até hoje, a pedido do Ministério Público Estadual (MPE).

A situação atual é considerada grave tanto pelo município, quanto pela Promotoria de Justiça. A Prefeitura diz que já cumpriu mais de 80% das exigências apresentadas pela Semace e pede a liberação do matadouro. A Semace reapresentou novo pedido de realização de obras no matadouro. Em meio a esse impasse, a população sofre com o problema e está exposta a contrair doenças em face do consumo de carne de animais abatidos sem inspeção veterinária e também sanitária.

Em dezembro de 2008, o MPE ingressou com ação civil pública contra o município e solicitou da Semace e do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) visita técnica e laudo de inspeção sobre as condições físicas e de funcionamento do matadouro. Os técnicos constataram a precariedade da unidade. Em laudo técnico, apresentaram os seguintes itens: abate de animais de forma cruel com uso de marreta e machado, carcaças jogadas a céu aberto, resíduos sólidos acumulados e falta de estação de tratamento de esgoto e das águas servidas.

O relatório revelou ainda a falta de brete de contenção dos animais, precária condições de estrutura externa e interna, paredes sem revestimento e piso danificado e permeável, contato da carne com o piso, ausência de mesa de inspeção sanitária e transporte inadequado da carne para o comércio.

Estação de tratamento

Ainda na gestão passada, a Prefeitura realizou algumas obras de melhoria, tais como revestimento das paredes, recuperação do piso, construção de bancadas e colocação de pias inoxidáveis. A atual administração construiu uma estação de tratamento de esgoto e, por meio de advogados, ingressou na Justiça com ação cautelar e pedido de liminar para reabertura do matadouro.

A Prefeitura de Cedro informou à Justiça que há veterinário regularmente contratado para o serviço de inspeção, confirmou com fotos o abate clandestino de animais, apresentou os serviços de melhoria realizados na unidade e considerou o fechamento do matadouro "uma decisão irresponsável, pois favoreceu o surgimento dos abatedouros clandestinos, expondo a população ao consumo de carne contaminada".

O promotor de Justiça, Leydomar Nunes Pereira, esclareceu que a Justiça não julgou o pedido de liminar e nem determinou prazo de 90 dias sob pena de aplicação de multa contra o município, caso não cumprisse as exigências da Semace. "O embargo que permanece não é judicial, mas administrativo. Há um problema com relação à estação de tratamento dos dejetos e é lamentável que esse problema se arraste há tanto tempo".

O secretário de Infraestrutura do município, Manoel Siqueira Nazaré, disse que o município já cumpriu mais de 80% das exigências apresentadas pela Semace e que o matadouro está pronto para funcionar. "Estão exigindo coisas demais, que não existem em outros matadouros da região", disse. "É um absurdo o que está acontecendo em Cedro. A população consome diariamente carne de moita e corre sério risco de saúde por capricho da Semace e da Justiça. Os moradores estão sofrendo".

Manoel Siqueira fez um apelo à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) para que ajude a solucionar o embargo administrativo no matadouro da cidade.

"Queremos justiça, uma análise adequada da situação atual do matadouro em comparação com outras unidades. Já construímos a estação de tratamento de esgoto e retiramos as salgadeiras. Temos interesse na reabertura do matadouro e queremos agilizar a solução".

Fonte: Diário do Nordeste
Jornalista Honório Barbosa

Luiz Vasconcelos

O redator do blog tem formação acadêmica pela Universidade Estadual do Ceará na área de Pedagogia, no entanto, tem grande predileção pelo jornalismo.

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