Para cada 10 gramas de álcool ingeridos diariamente, há um aumento de 7,1% do risco de desenvolvimento de câncer de mama. A dosagem equivale a menos de uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou um copo de uísque, por exemplo.
Ou seja: se forem duas latas, duas taças ou dois copos do destilado, o risco pode ser ainda maior, segundo posição defendida em um artigo publicado este mês na revista Breast Cancer Research. O trabalho científico foi divulgado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa).
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores Peter Boyle e Paolo Boffetta cruzaram dados de 53 estudos epidemiológicos, entre eles uma pesquisa norte-americana feita entre 1980 e 1984. Na época, os médicos concluíram que mulheres que consumiam 15 gramas de álcool por dia tinham 60% mais chances de terem câncer de mama em comparação com as que bebiam 5 gramas (g).
Com a revisão da literatura científica, Boyle e Boffetta chegaram a dose padrão de 10g como perigosa para desenvolvimento da doença. A psiquiatra e coordenadora do Cisa Camila Magalhães Silveira diz que os dados são preocupantes. “O organismo da mulher é mais sensível que o homem por ela ter menos enzimas que metabolizam o álcool e menos líquido corporal para diluí-lo”, diz.
Mas qual o mecanismo de ação do álcool no organismo para levar ao aumento desse risco? Especialistas apontam algumas hipóteses, apesar de as causas serem ainda alvo de estudos.
Luiz Gebrim, diretor do Hospital Estadual Pérola Byington, referência em saúde da mulher, diz que a provável causa é que o álcool passa a ser mais tóxico para o fígado, atrapalhando a forma como o órgão metaboliza os hormônios.
“Se o fígado passa a ser bombardeado com álcool, ele não dá conta de eliminar o estrogênio. E o excesso contínuo desse hormônio deixa a mama mais suscetível ao surgimento de células malignas”, explica.
Outra possibilidade, segundo ele, é a obesidade e o sedentarismo, que também sobrecarregam o fígado, dificultando a eliminação dos hormônios. Com isso, os hormônios podem se acumular na região das mamas femininas – favorecendo o surgimento de células cancerígenas.
O médico e Técnico da Divisão de Atenção Oncológica do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Ronaldo Correa, acrescenta que outra causa seriam as enzimas que eliminam o álcool do organismo. “Alguns produtos dessas enzimas podem lesar a mama. Mas a explicação mais aceita é o fato de aumentar o nível dos hormônios femininos na circulação. O câncer de mama é alimentado por esses hormônios. Se ele está em maior quantidade na circulação, aumenta o risco do desenvolvimento de uma célula diferenciada”, diz.
O especialista recomenda ingerir até uma taça de vinho por dia porque quantidades moderadas da bebida alcoólica reduzem risco de doenças cardiovasculares (leia mais ao lado sobre esse efeito). Ele acrescenta que o risco para desenvolvimento da doença é maior em mulheres que apresentam histórico de câncer na família e fumantes.
“Aquelas que têm câncer ou o fator hereditário não devem beber nada. Vale lembrar também que o álcool é danoso porque afeta os reflexos, o que pode causar acidentes, e também pode causar a dependência”, afirma o médico do Inca.
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