A revolução da cirurgia sem cortes, bisturi ou cicatrizes


Uma revolução está em curso na medicina. Grandes cortes, cicatrizes aparentes, dores lancinantes e excesso de sangramento são situações do século passado. Cirurgiões da rede pública e privada no Brasil estão usando cada vez mais técnicas minimamente invasivas para retirar tumores e eliminar doenças do coração, da coluna, do cérebro e do aparelho digestivo, bem como resolver problemas ginecológicos e urológicos. Dependendo da queixa, graças aos novos equipamentos é possível voltar para casa no mesmo dia. O conceito inclui a robótica, em que as mãos do médico são substituídas pelas de uma máquina precisa, e operações são feitas a distância.

As vantagens são enormes: com cortes minúsculos, ou sem cortes, as complicações e o pós-operatório são drasticamente reduzidos. O tempo da operação é menor e a recuperação do paciente, mais rápida. Com menos tempo de exposição ao ambiente hospitalar, diminui o risco de infecção. E o custo total da intervenção cai, considerando-se a economia com remédios e diária de hospital. Não por acaso, instituições públicas do Rio, como Instituto Nacional de Câncer, Instituto Nacional de Cardiologia, Hospital Municipal Miguel Couto e Hospital Federal de Bonsucesso já investem nelas.

Um dos primeiros métodos a aposentar o bisturi foi a videolaparoscopia: o médico faz dois ou três pequenos orifícios para acessar órgãos por meio de cânulas, uma delas com câmera. Hoje, já se trocam válvulas do coração, controlam-se arritmias e se fazem implantes de artéria mamária. Também hérnias e outras alterações de coluna são tratadas assim. Sem abrir a cabeça do paciente, aneurismas são extirpados ou morrem por inanição, já que o suprimento de sangue é interrompido. E, sem rasgar o abdômen, eliminam-se miomas e endometriose. Nos centros cirúrgicos, muitos médicos são auxiliados por Zeus e Da Vinci. Estes são os nomes de robôs que operam com precisão milimétrica, preservando estruturas saudáveis e reduzindo sequelas. "Os robôs são guiados por um cirurgião bem treinado. É como ter um piloto num carro de Fómula 1. Em dez anos, a cirurgia robótica será rotina. Alguns convênios já a cobrem", diz o cirurgião-geral Vladimir Schraibman, orientador de cirurgias robóticas do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo.

Cirurgias de coluna

Para a coluna, nos casos de hérnia de disco e instabilidade das vértebras, as técnicas que usam punção permitem recuperação em menor tempo, afirma o neurocirurgião Eduardo Barreto, coordenador do Serviço de Neurocirurgia do Norte D'Or. Hoje, as hérnias são corrigidas por meio da retirada do disco doente, com anestesia local e sedação. O paciente se interna de manhã e vai para casa à tarde. Antes, ficava três dias ou mais no hospital.
— Também é possível trocar o disco desgastado por outro artificial. E, se o sistema de sustentação da coluna está danificado, corrigem-se segmentos — explica Barreto.

Próstata

Na urologia os robôs têm apresentado bons resultados no tratamento de tumores de próstata. Com os braços mecânicos, médicos conseguem um melhor resultado na preservação da potência sexual, um das consequências da retirada do tumor. O risco de incontinência urinária também cai. Segundo o urologista Cassio Andreoni, da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e do Hospital Israelita Albert Einstein, um estudo comparando 35 casos de cada uma das quatro técnicas de cirurgia de câncer de próstata (perineal, abdominal aberta, laparoscópica e robótica) mostrou que, com o robô, o paciente fica menos tempo sem dieta, internado (média de dois dias) e com sonda. E perde menos sangue.

E urologistas da Universidade da Flórida já usaram robôs para encurtar o tempo de reversão de vasectomia. Com técnicas menos invasivas, os espermatozoides voltaram mais rapidamente.

Cardíacas

Candidatos à cirurgia de coração não precisam sair com cicatriz no peito e penar no pós-operatório. Implantes de pontes são feitos com pequenas incisões, diz José Oscar Brito, do Instituto Nacional de Cardiologia. No Miguel Couto, cerca de 30% das operações vasculares (incluindo as angioplastias) e de 30% a 40% das neurovasculares (aneurismas cerebrais e de aorta) são por videolaparoscopia. No Hospital Pró-Cardíaco, há cirurgias sem cortes em áreas como cardiologia e proctologia. E, no Inca, vdeolaparoscopia e neuroendoscopia são usadas em intervenções colorretais, urológicas e ginecológicas e na retirada de alguns tumores cerebrais.
No sistema público, o cirurgião Luis Alexandre Essinger, diretor-geral do Miguel Couto, frisa que as novas técnicas acabam por beneficiar também quem aguarda vagas.
— Há economia em anestesia e uso de sangue e remédios. E o paciente fica menos tempo no CTI e tem alta mais rapidamente, o que reduz o risco de infecção e permite atender mais pessoas — observa.



Luiz Vasconcelos

O redator do blog tem formação acadêmica pela Universidade Estadual do Ceará na área de Pedagogia, no entanto, tem grande predileção pelo jornalismo.

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